2004-02-27
Do Costa
Recebi este mail FANTÁSTICO
O autor é o João Pereira Coutinho, não o milionário mas sim o
jornalista:
"NÃO TENHO FILHOS e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta
não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas
proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário:
estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de
contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos,
a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje,
não a criança nasce não numa família mas numa pista de atletismo com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três anos, natação aos quatro, depois de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um
potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente
nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída
com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão
geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho, as quecas de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial estará a mamar forte no Prozac. É a velha
história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos.
Quantomais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação
insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O
que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os
clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a
excelência
Mas a felicidade."
Que obviamente assino por baixo. E ao qual voltarei seguramente com mais calma.
Agora, em busca de Montaigne !
Recebi este mail FANTÁSTICO
O autor é o João Pereira Coutinho, não o milionário mas sim o
jornalista:
"NÃO TENHO FILHOS e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta
não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas
proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário:
estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de
contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos,
a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje,
não a criança nasce não numa família mas numa pista de atletismo com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três anos, natação aos quatro, depois de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um
potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente
nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída
com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão
geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho, as quecas de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial estará a mamar forte no Prozac. É a velha
história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos.
Quantomais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação
insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O
que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os
clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a
excelência
Mas a felicidade."
Que obviamente assino por baixo. E ao qual voltarei seguramente com mais calma.
Agora, em busca de Montaigne !
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