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2004-03-02

Do Compadre

Correio já com alguns dias, envia ele da Edição Nº1578
http://www.avante.pt - Jornal «Avante!» (não morde, e já lá vai o tempo das criancinhas comidas ao pequeno almoço e das injecções atrás da orelha) esta pérola.

OS PUROS

No mesmo dia em que começava em Haia o julgamento simbólico, porque não vinculativo, da construção do «muro do apartheid» com que Israel está a isolar a Cisjordânia, em Portugal a comunidade judaica celebrava o que considera ser um acto de transcendente importância: a apresentação pública de um vinho «para judeus».
O acontecimento teve direito a reportagem televisiva e a declarações das entidades envolvidas no evento. Aparentemente, todos estão de parabéns.
A adega cooperativa que produziu o vinho respira de satisfação por
colocar no mercado um produto apetecido por uma camada importante de
consumidores, dentro e fora do país; o representante diplomático de
Israel regozija-se pelo que considera ser um acto de «reconciliação» com os judeus; e o dirigente religioso dá graças por o seu rebanho passar a dispor de um produto confeccionado como manda a sua religião.
Nada disto teria muita importância se não fosse um «pequeno» pormenor. O vinho agora posto à venda - e já com milhares de garrafas destinadas aos Estados Unidos - pode ser bebido por judeus porque é «puro». Não se trata, como legitimamente se poderia pensar, de nenhuma nova técnica da confecção do produto. Como o rabino fez o favor de explicar aos ignorantes telespectadores, a pureza que habilita os judeus a degustar o vinho português advém única e exclusivamente de, na sua confecção, desde o tratamento da uva até ao engarrafamento, intervirem apenas judeus.
Confesso que a perplexidade me impediu de perceber se foram judeus que
cavaram a terra, cuidaram das videiras e apanharam os cachos que
entraram na adega para produzir o precioso líquido, ou se a «pureza» só começou depois do trabalho sujo, quer dizer, do trabalho duro.
Por momentos, eu que nunca vindimei, fiquei a olhar para as minhas mãos perguntando-me o que tinham de impuras a ponto de impedir que outros consumissem o que porventura tivessem tocado. E senti-me ofendida, profundamente ofendida, por alguém no meu próprio país, que tem a mesma nacionalidade do que eu ou que aqui encontrou acolhimento, que beneficia dos mesmos direitos e deveres, se arrogue o direito de dizer, porque professa uma determinada religião, que só é «puro» e digno dos «eleitos» o que não for tocado pelas mãos sujas dos indígenas como eu.
Mais do que ofensivo, isto é uma manifestação de racismo, seja qual for o embrulho com que se apresente. Com um rótulo destes, qualquer vinho é um apelo à intolerância. Que desperdício!”



Respirar fundo e apelar fortemente á racionalidade, é o que há a fazer perante o vinho dos puros.

O Compadre, incansável como só ele, enviou-me ainda outro mail sobre a segurança de um Presidente de Câmara candidato a candidato á presidência da republica, mas sinceramente já não tenho pachorra, e olhando friamente a situação talvez seja positiva a sua candidatura para a pulverização dos votos á direita.


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Leio de empreitada o Abrupto e o Causa-Nossa dos últimos dias, do primeiro destaco o texto que se segue :

AS LEIS QUE NÃO SÃO PARA TODOS

Porque é que um arruaceiro e um hooligan que faz as coisas que Ferreira Torres, presidente da CM do Marco e membro do Senado do PP (o órgão apresentado com pompa no último Congresso, para as autoridades “morais” do partido), fez diante de toda a gente, incluindo agressões físicas a pessoas, tentativa de destruição de bens, etc., em público, resistindo à autoridade, não foi imediatamente preso pelos guardas que o agarraram? Aqui está uma pergunta a fazer ao MAI. É um bom teste sobre a bondade da atitude dura do Governo face à violência no desporto.”



Porque não se percebe como é que depois de tantos indícios de tanta ilegalidade, ainda não tenha a justiça encontrado ponta para lhe pegar. Cromos como este deixam nas ruas da amargura a credibilidade da Justiça e da Democracia em geral, abrindo portas (curioso ... Portas) ao populismo extremista.

Do Causa-Nossa não destaco nada em particular, empanturrei-me com ele TODO. (burp !)



Releio Os Maias

A mesma edição que fui (fomos) “forçado” a ler junto com as “Viagens na minha terra” nos tempos da escola, agora já gasto pelo tempo, sublinhado e anotado entretanto pela mana, também, nas suas andanças do secundário. Desta vez saboreio e dou-lhe realmente muito mais valor, sobretudo depois de sentir a dificuldade do que é escrever meia dúzia de linhas ainda que sobre um qualquer assunto que aparentemente tão claro na mente, mas que ao verter neste caso para o computador se vacila a cada palavra, e se corrige e volta a corrigir, e mesmo assim nunca parece estar bem.

Na altura, atento apenas ao desenrolar do enredo e perseguindo incansavelmente a última página, pareceu-me uma trivial “história da carochinha”, ainda para mais quando a seiscentas páginas do fim, este já se antevê, compreendo bem hoje, a minha implicação de então com o livro, entretanto já passou muita água debaixo da ponte, e muito do que estava nas entrelinhas e lá ficou na altura, aparece agora mais transparente.

Apenas duas curiosidades relativamente ás cento e algumas páginas que li até agora :

“ o ciúme entre Lisboa e Porto.....Nesta luta das duas grandes cidades do reino, podem outros ver despeitos mesquinhos, eu vejo elementos de progresso. Vejo civilização.”

“Quer-se um economista? Não há economista. Tudo assim!...mesmo nas profissões subalternas. Quer-se um bom estofador? Não há...”


Os Maia, Eça de Queiroz, Ed.Livros do Brasil, Lisboa

Passagens de dois diálogos a que achei piada, por, tal como naqueles tempos (há cerca de 120 anos), ainda hoje serem assunto de conversas de café.

Este “apetite” por economistas, deu em que passado algum tempo tivessem que aturar um por quarenta anos.

Comments:
necessario verificar:)
 
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