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2004-04-05

Do Compadre


Foda-se!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Um homem, na casa dos 40 anos, morreu ao volante de um automóvel.
Subitamente. Presume-se por enfarte fulminante. Morreu a olhar para um
semáforo. Na Avenida de Gaia.
O carro esteve parado duas horas, com o motor a trabalhar, frente ao
sinal luminoso.
Durante esse tempo, ouviu-se um coro de buzinadelas, fizeram-se
ultrapassagens, chamaram-se nomes ao condutor. Ninguém estranhou que o
visado não reagisse. Ninguém se importou em saber porque o homem tinha a
cabeça pousada no encosto do banco, como se estivesse a dormir. Ninguém
parou. Ninguém quis saber.
Foi uma mulher que chamou a Polícia. Estava numa paragem de autocarro
e, perante tanto barulho, não achou normal a atitude do condutor.
A história, contada por um homem que veste uma farda, que se diz
autoridade e que foi testemunha de uma cena em que sobeja desumanidade,
custa a engolir. Mas é real. Aliás, chegou a fazer parte das participações
policiais. Lia-se "morte natural na via pública".
Ninguém se preocuparia em ler tal nota se não fossem os pormenores
acrescentados, com raiva na voz, pelo tal homem que veste farda e se diz
autoridade.
Habituado a enfrentar as mais incríveis situações, o homem de farda diz
que registou o episódio como o "caso" que mais o chocou como
agente de autoridade. Já lá vão 20 anos, acrescentou, repetindo sempre a
frase: "E ninguém parou!"


Margarida fonseca
jornalista(JN)


Ao comentário sintético, mas acertado do Compadre, acrescento que este é o tempo dos condomínios fechados, das portas com fechos de segurança, dos carros trancados nos semáforos, é o tempo do Darwinismo social, em que quem se consegue safar nesta selva, acredita que consegue viver em apartheid , daqueles que deixou ficar para trás fechando-se a sete chaves no seu paraíso privativo.

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