2004-04-18
Poema dum Funcionário Cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
António Ramos Rosa
Roubei-o à Lia aqui.
Quando procurava um do Rui Belo (explicarei acima o porquê).
A abolição da propriedade privada cumpre-se na rede, tudo é de todos, é claro que há sempre tinhosos a fazer habilidades, como por exemplo impedir o funcionamento do botão do lado direito do rato, a ética manda no entanto que se mencione a fonte.
O poema vai contra a artificial glorificação do trabalho, que se ouve muitas vezes da boca de alguns políticos, ladainha hipnotizante, não vá o povo acordar um dia e sacudir-se desse papel de Sísifo.
Que nem uma luva ...
...
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado...
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
António Ramos Rosa
Roubei-o à Lia aqui.
Quando procurava um do Rui Belo (explicarei acima o porquê).
A abolição da propriedade privada cumpre-se na rede, tudo é de todos, é claro que há sempre tinhosos a fazer habilidades, como por exemplo impedir o funcionamento do botão do lado direito do rato, a ética manda no entanto que se mencione a fonte.
O poema vai contra a artificial glorificação do trabalho, que se ouve muitas vezes da boca de alguns políticos, ladainha hipnotizante, não vá o povo acordar um dia e sacudir-se desse papel de Sísifo.
Que nem uma luva ...
...
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado...
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