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2004-07-11

Não falta dia nenhum

O Raúl nasceu hoje às 17:00 no Hospital de Sto.António.

Pontualmente às 8.30 lá nos apresentámo-nos hoje de malas feitas, com cara de mal dormidos ,com um pequeno almoço tomado à pressa, e reforçado com um café na confeitaria em frente ao hospital. Levantámo-nos ainda o sol não aparecera no horizonte, e saímos por volta das oito, a cidade ainda deserta, como sempre acontece aos Domingos de manhã, permitiu-nos uma viagem rápida, apenas algum movimento na praça vizinha da antiga cadeia da relação à volta da feira dos pássaros habitual nestes dias, o sol dava já um ar da sua graça às ruas da cidade e prometia um dia de calor apesar da frescura da manhã.

Cumpridas as formalidades próprias entrámos e o elevador levou-nos ao sétimo andar seguindo a indicação do recepcionista . Desta vez já nas novas instalações do hospital com uma vista formidável sobre miragaia e o rio. A sala de espera silenciosa e inundada pela luz da manhã esperava por nós. Como nos antecipámos à médica esperámos ainda vinte minutos. Após a sua chegada indicaram-nos de imediato o quarto reservado, duas camas apenas a 11 e a 12, a mãe, com pena, ficou com a segunda mais afastada da janela, a primeira ficou para a colega de enfermaria que entrou ao mesmo tempo que nós mas como ia à frente no caminho teve preferência na escolha, isto apesar de humildemente a ter oferecido à mãe, que no entanto não a aceitou. Nessa parte os pais foram convidados a sair com a promessa de voltarem momentos mais tarde. E assim foi, sentámo-nos cá fora e fomos trocando experiências, o dele também era o terceiro, ia ficar com três rapazes, sendo que o último já tinha vindo há quase doze anos, notava ele alguma diferença nas instalações , enfim conversa de pais, confessei-lhe que ainda não tinhamos nome, ele não se mostrou surprendido, também tivera algumas dificuldades, resolvera no dia anterior com a mulher que seria André. Uma hora e pico depois, fomos então chamados à sala de preparação de parto onde tinham instalados as mães, depois de terem posto um gel para induzir o parto, estavam a fazer gráficos, e ainda estava para durar, seguidamente foram como parte do processo convidadas a andar cerca de uma hora, e assim foi, durante uma hora lá andámos feito tolos às voltas na sala de espera, aproveitámos para acertar agulhas quanto ao nome, depois de várias combinações possíveis acentámos então que o primeiro seria RAÚL o segundo depois se veria, findo o periodo da caminhada, novo período de gráficos e nova aplicação de gel, sempre acompanhada pelos toques da praxe, três tristes dedos era a situação já ao início da tarde, a terapia não resultara ou então não foi eficiente, chegámos de manhã com um mísero dedo de dilatação, comeu uma sopinha para aconchegar o estômago e eu saí por volta da uma e meia da tarde para almoçar na Cafetaria do Museu Soares do Reis, apessadamente comi o quiche e o acompanhamento que o Melo surpreendido de me ver sozinho me serviu, veio ainda o bolo de chocolate, rematado com o café e o cigarro, Boa sorte desejou-me ele à saída, eram duas e meia. À chegada encontrei à porta o pai do André, que me contou as novidades, a segunda dose de gel apressou a situação e nesta fase tinham sido já encaminhadas para a sala de parto, uma para cada sala, já estavam com epidural com contracções que se vissem, estavam portanto as coisas de vento em popa. Esperámos então ali à vista das enfermeiras, para que nos chamassem para junto das respectivas mal houvesse oportunidade, ele esperou apenas alguns minutos, eu ainda fiquei sem perceber porquê mais algum tempo, estava já na fase em que qualquer porta a ranger me pareciam o chorar de um bebé. Chegou a vez de me chamarem, seriam então perto de quatro da tarde, entrei e contrariamente ao outro pai não me deram nem bata nem protecção para os sapatos, facto de que só deram conta já muito em cima do acontecimento, obrigando-me então a vestir devidamente, já o Raul dava mostras evidentes de estar saturado da situação, voltemos uma hora atrás, quando entrei para a sala de parto, a mãe estava para morrer, já não a via assim desde o Daniel Há cinco anos e meio, apesar da epidural as contracções batiam com força, uma anestesista aparentemente com pouca experiência tentava corrigir em vão a situação, estivemos nisto t`rês quartos de hora, então está a doer? perguntava a anestesista, sim respondia invariavelmente a mãe, intervaladamente a médica e a enfermeira vinham fazer o ponto da situação, já sente vontade de puxar perguntou a enfermeira, não respondeu a mãe, então ainda não é para já respondia ela enquanto olhava desconfiadamente a anestesista, a médica entrou e reparou, no gráfico que jorrava da impressora, que as contracções estavam mais acentuadas, esta foi forte não foi mãe, a mãe atordoada respondeu que não, se calhar a anestesia estava a fazer efeito, comentaram entre elas, eu permanecia ao lado da cama de parto segurando a mão da mãe e sentindo os seus apertos cada vez que as dores agudizavam, e tentando sem sucesso acalmá-la, nesta fase ainda não tinha como certo se iria testemunhar ou não o acontecimento, e ia-me tentando monitorizar tentando precaver algum desfalecimento no auge da acção. Às dez para as cinco tudo se precipitou alucinantemente, a mãe queixou-se-me que estava com vontade de puxar, eu sem muita esperança fui de imediato chamar a enfermeira, que veio de imediato e ficou contente com o que viu, está quase já tem um rebordosinho, não me perguntem o que é que não eram alturas para perguntas, sei que ela de imediato preparou os apetrechos, vestui as luvas pôs a bata, e foi chamar reforços, vieram quatro mais eu e ainda outras foram convocadas mas já chegaram tarde, abra as pernas repetiam ela que descontroladamente insistia em se torcer, olhe que vai magoar o bebé, gritavam já com cara de poucos amigos enquanto três a seguravam e a enfermeira com segurança tirava o Raúl cá para fora, eram cinco da tarde, a mim coube-me manter uma das pernas abertas de feição, ele num esforço maior saiu inundado pelos líquidos e por tudo o que sai de turbilhão, cinzento, cinzento mesmo era assim que ele vinha, uma enfermeira das que ajudavam segurou-o então pelos pés tal como se faz aos coelhos e manteve-o assim breves instantes reparei que os pés estaval roxos, logo de seguida levou-o para uma mesa nas minhas costas para o preparar, o que distraiu a minha atenção das entranhas que iam saindo, a mãe renasceu no instante imediato ao Raúl ter saído, parendo sair de um transe, pediu logo para ter contacto com ele sujo e cinzento como estava, antes ainda de passar a mesa dos preparos, pediram-lhe então mais um pequeno puxo para ajudar a placenta a descolar, ao que ela acedeu já muito bem disposta, o esforço trouxera-lhe algumas lágrimas que nesta altura já eram de felicidade, a mim também me foi difícil reté-las assim que o vi sair balbuciando o primeiro choro, coisa de que não tenho memória nos anteriores. Os preparos incluiram meter-lhe um tubo pelo gorgomilpo abaixo para lhe aspirarem as secreções e a aplicação por injecção da vitamina K (??), limparam-no e vestiram-no, lembraram-me entretanto das fotografias, eu náo esperei pela segundo aviso e corri a buscar as máquinas, que eram duas, e num instante lá foi um rolo, nas minhas costas houve ainda costura, mas breve, dois pontos apenas suportados estoicamente pela mãe .
Tudo pronto seguimos para a enfermaria, pude pegar então nele demoradamente, enquanto a mãe comunicava o acontecimento à sociedade pelo telemóvel. Ele é parecido com os outros bebés, é difícil nesta fase trazer os traços do bebé na memória para lembrar em casa. A mãe está radiante e contrariamente aos manos, não se faz notar na face o esforço da parto.

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