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2005-01-22

Cotidiano

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio-dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã


Chico Buarque

Isto com a música bate mais fundo.
Depois de um dia de trabalho, a caminho de casa, a estrofe a cheio acerta na mouche, no absurdo do quotidiano.

Comments:
Tá tudo compadre?
Ainda bem que passei pelo blog do costume antes do mais que merecido descanso do guerreiro. Que bom que foi deixar a mente navegar pelas palavras que nos transportam para o quotidiano, ou realmente para o "coitidiano", e ter o incumensurável prazer de ler aquilo que já nos passou pela cabeça tantas e tantas vezes, mas que só os génios conseguem transmitir de uma forma aparentemente tão simples.
Obrigado por ires tu também contribuindo para essa fuga ao nosso coitidiano. Com toda a certeza que não fui só eu que me deliciei com as postas que acabaste de publicar. Bem hajas e continua a fazer bulir as consciências adormecidas.
Um grande abraço,

Francisco
 
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