2005-06-30
O mundo do Daniel vai-se alargando, até aqui preenchido pelos que o rodeiam no dia-a-dia e pelo Deco, pelo Costinha, pelo Vitor Baia e por mais um punhado de personagens ranhosos do futebol, aqui há dias reconheceu o nome de uma notícia da rádio, um nome familiar do livro de língua portuguesa: Eugénio de Andrade. Apanhando a boleia, a mãe enfia-lhe que também o Álvaro Cunhal fora desta para melhor, a irmã que estava de lado atenta à conversa, longe de saber que a morte tem vida própria, perguntou de imediato «Morreu! quem matou?». Ele, ainda longe de perceber a dimensão da personagem Cunhal, à chegada a casa deu-me a notícia como quem dá uma prenda, e havia também o Gonçalves, mas esse não deu tanto nas vistas, nos dias seguintes haveria de ter seguimento a congestão de eventos sobre o Cunhal.
Estámos da fase terminal de um jantar de um dia próximo, e como muitas vezes acontece o Daniel, sem que aparentemente nada o incentive, atira umas contas para a gente lhe fazer de cabeça, «óh pai, quantos são 1913+91?» 2004, respondeu um de nós de imediato, e pela cara dele percebeu-se que não era o resultado que estava à espera, entretanto já nós tinhamos apanhado a ideia , explicámos-lhe então que o Cunhal lhe trocara as contas porque, tal como ele, era Escorpião e só faria anos em Novembro .
É difícil imaginar a baba que nos cai ao encontrá-lo a ler sozinho e em voz alta (ainda não é capaz de ler para si) sem incentivo alheio :
O gato
Onde está o gato?
Dentro do sapato?
Anda atrás do pato
ou caiu do pote?
- Anda no jardim
à roda do pudim.
Dó si dó ré mi
Eugénio de Andrade
2005-06-26
Taça do Mundo de Maratonas
Um acontecimento desportivo desta grandeza, num cenário fantástico, havendo possibilidade de uma boa prestação da equipa nacional (como de resto se verificou hoje com p primeiro lugar em K1 damas senior de Beatriz Gomes-1ª foto) , numa modalidade cuja representação nacional deu nas vistas nos últimos jogos olímpicos, é incompreensível não haver transmissão televisiva, não haver sinais de apoios oficiais, nota-se na organização que se faz o que pode com o pouco que se tem.
Apetece ser um pouco bairrista e dizer que se fosse em Vila Franca ou em Sobral de Monte Agraço até lá tinha ido o Sampaio dar o tiro de partida.
Um conselho á organização, falem com o João Lagos, o homem do Estoril-open das corridas de barcos,etc..., um homem que tem muitos amigos nos lugares certos.
Deus nos livre !
Se a política fosse como as empresas, ou estavam despedidos, ou as empresas estavam falidas.
J.Pacheco Pereira - 23/06/2005 Público, a propósito das politicas europeias dos partidos que integram o sistema político português.
Tem vindo a fazer caminho esta ideia de que gerir um País é o mesmo que gerir uma empresa, só com alguma má fé ou fundamentalismo liberal é que se pode meter as duas coisas no mesmo saco, é certo que haverá pontos de contacto, mas no essencial há uma distância enorme, basta ver que ao transpôr o sistema de gestão de uma empresa para a politica caimos direitinhos numa ditadura.
2005-06-21
2005-06-18
A médica bem o virou, hoje, para um lado e para o outro, por cima e por baixo em busca de algum furo por onde fuja o que ele come, sim porque ele come, e nada. Só para tirar a última teima, e depois dos exames que já fez a isto, àquilo e àqueloutro, vêm umas análises ao sangue.
Encostassem-me uma faca ao gorgomilo, e dessem-me 10 segundos para revelar uma música que me enchesse as medidas, e a probabilidade de sair esta era muito grande.
Se me fizessem o mesmo com um filme e sairia certamente o filme onde a fui buscar - Os amigos de Alex.
2005-06-13
Se mais nada houvesse a dizer sobre Gouveia, referir que trata muito bem as suas crianças, que tem talvez o melhor parque infantil que eu tenho visto por aí, já não era pouco. Fomos lá à procura de um bolo de aniversário num feriado e havia, também não é pouco para uma localidade pequena do interior, havia vários tascos abertos onde refrescar a goela que o calor aperta por esta altura naquelas bandas.
Um pormenor curioso que não deixei de notar, uma bandeira vermelha com uma foice e um martelo dourados bailava, ao sabor da brisa ligeira da tarde, no mastro de uma varanda, alguma sede do PC local, só me pareceu curioso por ser onde é, o povo deste interior é normalmente pouco dado a ideologias progressistas, acresce que ainda há pouco tempo, perdidas nas paredes de uma aldeia perto, encontrava palavras de apoio ao M.D.L.P. (organização terrorista de extrema direita).
Diários da Assembleia Constituinte
Há-de haver aqui coisas de partir a moca, mas agora não há tempo.
Esta é, desde sexta-feira, a versão actualizada da lista da tralha a levar para a praia.
Aguenta-se o défice, o dinheiro mais curto que o mês, agora não poder dar um salto à praia descansado, Puta que pariu Óh blá.
Isto é muito, mesmo muito, mais sério que isto, mas não estou para aí virado, estranho apenas o pouco relevo que vi dado na imprensa escrita ao assunto, particularmente depois de numa viagem de carro de três horas na sexta-feira, sintonizado na TSF, ouvir de meia em meia hora grande parte do espaço noticioso preenchido com este facto, e para espanto meu no dia seguinte o assunto era quase subalternizado nos jornais (Público, DN, JN, Capital), cingindo-se a pouco mais do que o relato factual, pouco ou nada se acrescentando ao que repetidamente ouvira no rádio no dia anterior.
Na posição que ocupa, fora da política, João Salgueiro pode dar-se ao luxo de o dizer abertamente, como o fez no Diga lá Excelência desta noite, coisa que certamente muitos políticos pensem mas que constrangimentos da função obriguem a não o dizer desta forma explicita. Vinha isto a propósito do problema do défice comercial externo que, não tendo na imprensa o eco do défice orçamental, é no entanto um problema com mais gravidade e de mais difícil solução, para este, como se vê, na falta de solução mais engenhosa há sempre o recurso ao aumento de impostos, enquanto que no caso do défice da Balança Comercial tem que ver com a competitividade internacional da economia portuguesa coisa que o Governo não pode decretar.
Ainda assim pode ficar a ver passar os comboios, optando por uma via mais liberal de deixar a iniciativa total nas mãos dos empresários e como postula a cartilha liberal a solução aparecerá por si (não se diz é o que fica pelo caminho), nesta fase do raciocínio J.Salgueiro disse que o governo tinha que planear, coisa que logo corrigiu sem deixar de sorrir, assumindo expressamente, que nos tempos que correm planeamento é uma palavra maldita (associada aos regimes em que o estado tem uma palavra a dizer na economia), tem que ter uma estratégia como têm as empresas tem que se definir o que Portuigal quer ter para oferecer no comércio internacional.
Isto não deixa de ser curioso, pelo menos para mim, porque quando por acidente penso nestas coisas, vou invariavelmente desaguar no mesmo planeamento, depois olhando á volta e mesmo tendo em conta o destaque que se dá nos cursos de Economia, acho-me um extra-terrestre e trato de chutar para canto, mas afinal parece que não, o problema está é no nome da coisa.
2005-06-09
Tanto tiempo disfrutamos de este amor
nuestras almas se acercaron tanto asi
que yo guardo tu sabor
pero tu llevas tambien
sabor a mi.
Si negaras mi presencia en tu vivir
bastaria con abrazarte y conversar
tanta vida yo te di
que por fuerza tienes ya
sabor a mi.
No pretendo ser tu dueno
no soy nada yo no tengo vanidad
de mi vida doy lo bueno
soy tan pobre, que otra cosa puedo dar.
Pasaran mas de mil aos, muchos mas
yo no se si tenga amor la eternidad
pero alla, tal como aqui
el la boca llevaras
sabor a mi.
O Rogério Samora trauteava-a no Delfim do Fernando Lopes, ficou-me daí. Há mil e uma versões na net, desde arranjos mais actuais com mais cosmética de estúdio, gravados por meninos bonitos da música ligeira latino-americana acabadinhos de sair de uma qualquer novela venezuelana , até coisas mais remotas que soam mais próximo do que tinha guardado na memória e que ressuscitou com o Delfim. Como diz o povo: música de dor de corno.
- Sabes o que é isto?
- Não.
- É o sexo.
- O que é o sexo?
Pensando melhor, não era o sexo, mas o género.
2005-06-07
2005-06-04
2005-06-03
All across Europe, we have a rash of incompatible noes. A Danish no, in defence of their generous welfare state, is quite different from a Polish no. Even the French noes are incompatible with each other. Jean-Marie Le Pen and French communists make the strangest of bedfellows. Yet one thing these French noes do have in common: the emotion of fear. Spending a few days in France last week, I found a nation gripped with fear. Fear of the unknown. Fear of foreigners. Fear of change. Fear of the now proverbial "Polish plumber" taking your job, of an enlarged EU with Paris no longer in the driving seat, of a world increasingly dominated by "Anglo-Saxon liberalism". But fear is a bad counsellor.
Timothy Garton Ash
Thursday May 26, 2005
Guardian
2005-06-02
Confesso que sou um fanático europeísta, sobretudo por uma questão de Guerra e Paz. Só a UE nos fez esquecer que Aushwitz foi há 60 anos e só o alargamento nos fará olhar para Sebrenica e percebermos que fica bem perto de Veneza ou de Viena.
Não sou eu, são palavras do Ricardo Costa, mas que também a mim me fazem pender para o lado do sim, cheguei a elas (às palavras) à procura de umas imagen na Net que vi na Sic à chegada a casa sobre, precisamente, os massacres de Sebrenica e que me tiraram a vontade de jantar. Aquela meia dúzia de seres inertes fustigados no mais profundo da sua dignidade sem darem mostras de qualquer tipo de resistência, eles nem tentam fugir dizia incrédulo o meu pai, pudera, com uma dúzia de animais armados até aos dentes ali à perna.
Eram imagens que mereciam muita reflexão, mas que miseravelmente se ficam pelo fecho apressado das notícias sem mais, porque, parafraseando Fernando Tordo: o que o povo quer é curtir a telenovela.
2005-06-01
Visitar a Ribeira nestas noites de calor, está bonita e digna, pronta para receber sem envergonhar, muito muito pelo contrário, os turistas que o Verão vai trazer, um cordão de floreiras ornamenta todo o cais da Ribeira ao longo do qual se estendem esplanadas em contínuo desde o largo de cubo até ao início da rampa, os arcos de granito completam o quadro. Cálices de Porto enfeitam as mesas, já hoje, cheias de forasteiros.
Pode-se agora usufruir do resultado das obras que o ano passado estragaram o Verão da Ribeira, o fim das barracas de venda dá a possibilidade de absorver a vista do rio em pleno, ou nas esplanadas iluminado por um fino suado e borbulhante, ou, se a crise não der para mais, nos inúmeros bancos no passeio mais chegado ao rio. Ficou a faltar a limitação ao trânsito.