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2004-03-31

Faltam 102 dias



Domingo levamos a Cria a Viseu ao aniversário da prima, a mais nova, pelo menos até Julho, não gostou da viagem, mal saiu do carro fez a mãe inundar de vómito a Rua Direita, já os manos também foram muito dados ao vómito, lembro-me da mãe contar do D quando trabalhava ainda nos vinhos, um dia lambareira, levou uma fatia de bola de carne para comer no emprego, mal acabou de a meter dentro nem teve tempo de a saborear, com muita pena, correu á casa de banho para a deitar fora.
Chegamos já tarde a Viseu, depois de calcorrearmos a Rua Direita do início ao fim, lá arranjamos poiso para almoçar num restaurante manhoso, ainda assim correu bem, tivemos a sala só para nós, o que deu para os manos depois do almoço, sairem da mesa e espraiarem a sua energia entre as mesas, sem incomodarem a vizinhança.
Seguimos depois para casa dos tios, onde a família pode admirar e sentir a Cria. A Sogra não achou boa a ideia da mãe vestir uma indumentária que mostrava as maneiras, mostrar mostrar não mostrava, mas sendo bastante justa, evidenciava para além das Cria também o alimento, e a Sogra não apreciou que outros fossem comendo com os olhos.

Na semana passada fizemos a G emigrar para o quarto ao lado, que ficou agora com capacidade para três inquilinos - e sem espaço para brincadeiras - , mas surpreendentemente temos acordado com ela no nosso meio. – Foste tu que a trouxeste ? pergunta-me a mãe de manhã, não, ela vem sozinha assim que o sono alivia e deita-se entre nós, sem sequer darmos por isso. Nos primeiros dias chorava a meio da noite, corríamos logo a dar-lhe a chupeta e ficava como um anjo.
Sobra agora o problema de termos que adormecer os manos em dois turnos.
Tem sido assim, de dois em dois anos, temos o quarto só para nós durante um par de meses, ainda assim vale o trabalho de desmontar o berço, ainda que, para o montar daqui a pouco.

No Sábado, mais um aniversário, aproveitado para troca de cumprimentos entre crias, a nossa e a dos Lourenços que, nascerá em Agosto. Conversa em dia, um litro de cerveja no papo e comigo um tanto zonzo seguimos para o programa nocturno – depois de deixarmos os manos com a avó - , que meteu a Boca, em cena na casa do vinho verde, e já na companhia de um casal amigo que dará o nó no próximo mês. Havia muito a dizer da Boca, mas o que verdadeiramente nos levou lá, foi a encenação ser da vizinha de cima. Rematamos ainda a noite no café concerto do Rivoli, concerto só no nome, a música era gravada e incomodativamente alta para se conversar, o piano estava lá, mas estava agasalhado á espera de melhores dias.



1949, óleo sobre tela, 51x62 cm
Museu Municipal Abel Manta, Gouveia



2004-03-26

Mais do carácter nómada

Acabo de descobrir um novo planeta aqui, nos sites acedidos recentemente.

Muito melhor do que Marte, onde o espírito continua as suas aventuras , diria mesmo que, este é aparentado com Vénus.

Por mim vou-me ficar pelo penis enlargement , pelo King Size como é obvio, mais nunca é de mais.

Espreitar

A crónica do MST de ontem no Público, O Barnabé (tem carradas de ligações à imprensa de todo o mundo, é de aproveitar), a prosa do Dicionário e a crónica do Mega na Visão de ontem.

O fim-de-semana

Já passou,
manhã de Sábado ocupada,
tarde de Sábado ocupada,
noite de Sábado ocupada,
manhã de Domingo ocupada,
tarde de Domingo ocupada,
Noite de Domingo ocupada,

Reitoria UP, Quebrantões, Restauração, Alegria, Viseu e volta.

I´ll be there.

Do Compadre

Recebi uma crónica do Avante (Anabela Fino), acerca do acto de contrição que supostamente estará a fazer a comunicação social americana pela forma descaradamente parcial como terá coberto a questão do Iraque.
Deixo apenas este pequeno extracto , sobre uma preocupação que também partilho.

O que é preocupante, na verdade, é que a imprensa supostamente livre das
sociedades supostamente democráticas estejam afinal tão expostas tanto
ao poder político como ao poder económico.


Apesar de ser preocupante, penso que é um dado adquirido, e como tal, temos mais é que estar atentos.



2004-03-25

O partido da raposa

António Mega Ferreira / VISÃO nº 575 11 Mar. 2004



No início do seu magnífico estudo sobre a visão da História que atravessa a obra de Tolstoi, o pensador de expressão inglesa Isaiah Berlin deduz, de um obscuro fragmento do poeta grego do século VII a.C. Arquíloco («a raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma coisa muito importante»), uma sedutora teoria sobre a divergência fundamental «entre os escritores e os pensadores e, quiçá, os seres humanos em geral». Diz Berlin que os ouriços são os que «remetem tudo para uma perspectiva central e única, para um sistema, mais ou menos coerente e articulado, em função do qual compreendem, pensam e sentem»; as raposas «prosseguem vários fins, muitas vezes desconexos e até contraditórios, apenas relacionados, se for o caso (…), por uma causa psicológica ou fisiológica, dissociada de qualquer princípio moral ou estético».

Numa primeira aplicação da sua interessante teoria (que, reconhece, pode tornar-se «artificial, escolástica e definitivamente absurda, se levada às últimas consequências»), Berlin, um dos mais estimulantes pensadores do século XX, acha que Dante era um ouriço, enquanto Shakespeare era uma raposa. Ouriços seriam também, entre outros, Platão, Hegel, Nietzsche e Proust; nas raposas «arruma» Aristóteles, Montaigne, Goethe, Púchkin, Balzac e Joyce.

É aliciante aplicarmos este crivo, sugestivamente poético, às realidades que nos estão mais próximas. Eu vejo Alexandre Herculano, muito ouriço, tentando desesperadamente arrancar aos alfarrábios um qualquer princípio que nos justificasse como nação; enquanto Garrett, a maior raposa das nossas letras (não é por acaso que Hélder Macedo o aproxima de Púchkin), saltando entre o teatro e a política, entre a língua e a sociedade, é uma das mais exaltantes afirmações de atenção e imersão no tempo que passa e que

– sabem-no as raposas – nunca mais se repete.

Há casos como o de Tolstoi: este genial investigador de ambientes e comportamentos, de filosofias e de estratégias, de mitos e de sofismas, procurou, até à exaustão, um qualquer princípio que lhe permitisse ver claro no formidável painel das movimentações colectivas que fazem a História. Foi, como diz Berlin, «uma raposa amargamente empenhada em ver à maneira de um ouriço». E não sei se essa não é também, por outros motivos, a tragédia de Nietzsche, apóstolo do «homem novo», mas discípulo atormentado dos «homens velhos», dos Gregos a Wagner.

Todos nós, em maior ou menor grau, passamos, no decurso da nossa existência, por uma fase de ouriço: é normalmente quando, surpreendidos no início da idade adulta pela formidável diversidade da vida, nos entregamos às certezas confortáveis das «grandes narrativas». Há-de haver qualquer coisa, uma explicação qualquer, que ponha ordem em tudo isto, dizemos, apavorados perante o imenso desafio que representa o caos aparente de uma vida diante da qual nos sentimos demasiado pequenos. Meter a vida toda dentro de um sistema é a tentação fatal do marxismo, como o é de todas as religiões. Ceder a essa tentação talvez seja um passo compreensível; mas não é um destino incontornável.

Depois, pouco a pouco, habituamo-nos a reconhecer que é da essência da própria vida que ela se nos apresente assim, incontrolável, irredutível, incaptável. É claro que há quem, ouriço por opção, se acomode às certezas, eternas ou precárias, de uma explicação do mundo – e daí não se mova, até ao fim da vida. É que ser ouriço ou raposa não é o resultado automático (o que seria uma explicação de ouriço…) de condicionantes meramente culturais. É-se uma coisa ou outra também – e até talvez em primeira linha – por disposição do espírito ou educação do gosto, para já não falar de predisposição genética, à qual a minha curiosidade não chega com conhecimento razoável.

A «divergência fundamental» de que fala Isaiah Berlin é o muro onde esbarram todas as nossas divisões, tudo o que nos afasta de um discurso unânime sobre a realidade. As «grandes certezas» não são susceptíveis de serem sufragadas pela totalidade dos seres humanos, para grande desespero dos ouriços e gáudio evidente das raposas. A ilusão da totalidade não é necessariamente totalitária, mas é totalizante e redutora. Pode ser a salvação do ouriço; mas é o desespero da raposa.

A distinção entre ouriços e raposas pode aplicar-se a qualquer coisa: há ouriços que tendem a ver as finanças públicas como o princípio exclusivo ou condutor de toda a organização social; e há raposas que, reconhecendo embora que as finanças públicas são «uma coisa muito importante», introduzem na sua análise «muitas coisas», como a economia, a política, a psicologia, e, sobretudo, o bem-estar das pessoas. Os primeiros tendem a remeter a salvação para um futuro incerto ou transcendente; os segundos acreditam que há apenas uma vida para viver e que todo o futuro só vale a pena se as suas expectativas se começarem a viver no presente.

Moral da história? Não sei. Sei apenas que há muito tempo já que tomei o partido da raposa.



Proponho-me desossar este texto sem pressa, aqui, aceitam-se contribuições.
Encontrei-o na fila/bicha do supermercado no fim-de-semana. O sentido, penso que não é difícil perceber, mas o porquê da divisão feita, só sabendo mais alguma coisa sobre o pensamento dos nomes mencionados se chega lá. Sobre Montaigne já referi algumas informações ainda que superficiais, há tempos, a propósito de um mail do Costa. Aguardemos portanto...

A propósito do enigma

Surpreendeu-me o que vi no canal 2 anteontem, já noite dentro, sobre a clonagem. Confesso que não é um assunto que me provoque muita comichão, normalmente o que se ouve anda sempre à volta do mesmo, parecia-me um assunto relativamente esgotado. O que me surpreendeu no que vi foi, que, por trás dos casos aparentemente bem sucedidos que, são os que normalmente fazem notícia, há uma parte incomensuravelmente maior de falhas, de malformações indescritíveis, aliás segundo percebi a regra é mesmo essa, e a excepção serão os casos que têm vingado ainda que na sua maioria tenham ficado pelo caminho, como no caso mais mediático da ovelha Dolly.
Parece ser portanto este o impedimento ao avanço da clonagem humana, o receio, perante os "montros" potenciais que, nesta fase do conhecimento, se possam gerar.
Penso que sejam quais forem as leis que o proibam, acabará sempre por surgir alguém que a levará avante, quer para apenas para gerar embriões para fins terapeuticos, quer para procurar ultrapassar situações de infertilidade, quer apenas pela saciedade do conhecimento ou da glória passando ao lado das polémicas relativamente á consideração dos embriões como seres vivos (comum ao debate sobre o aborto).
Supreenderam-me também os vendedores de banha da cobra que, procuram parasitar casais inferteis à custa da venda da ilusão da viabilidade imediata da clonagem humana.


Compadre, se a mana tiver informações a acrescentar ou corrigir e quiser partilhá-las aqui não hesite.

2004-03-24

Do Compadre


Vale (?) a pena pensar nisto:
Com toda esta polémica a propósito da clonagem, uma grande pergunta
urge colocar:

- Alguém que tenha relações sexuais com o seu próprio clone, comete
incesto, é gay ou está a masturbar-se ?!?

2004-03-23

Faltam 110 dias

.


A Cria está a crescer e engordar, os seus movimentos vão-se tornando mais complexos e manifesta sinais de sensibilidade. (dos livros)

No Domingo parei por alguns (poucos) minutos a correria do fim-de-semana para sentir a Cria, e ela correspondeu com suaves movimentos fetais.



Na Sexta-feira foi o meu dia. A já habitual visita ao infantário para comungar das habilidades carinhosamente preparadas pelos miúdos, á G cheguei quase fora de horas depois do D me ter monopolizado quase o tempo todo, a educadora dele tinha preparada uma actividade para os pais fazerem com os miúdos, no caso um instrumento musical com desperdícios domésticos, depois quis pintar um desenho em conjunto, muito a custo interrompi o desenho a meio e, passei á sala em frente, já não havia pais, lá me arranjaram uma mesa onde durante cerca de um quarto de hora pintei também um desenho com a G, já os outros pais tinham carimbado a árvore toda que lhes estava preparada, pareceu surpreendida e algo envergonhada, mas foi-se soltando e no fim já dizia alto para os colegas –É o meu pai, é o meu pai. (baba, minha) Deixei-a, já, amuada com a minha saída, ofereceu ao pai um copo pintado com os dedos, o D ofereceu-me um livro que ele minuciosamente ilustrou com a história do “Romance da raposa” também contada por ele (mais baba), tinha ido ver a história ao teatro recentemente.



No Sábado foi dia dos filhos, juntámo-nos á família Costa, cujo pai testemunhara comigo no dia anterior a visita ao infantário, almoçámos á pala deles e fomos arejar para o parque biológico. Sem ter dormido a sesta habitual, e depois de caminhar com gosto quase três quilómetros, a G adormeceu no carro e só acordou no dia seguinte, o D tendo a colega da sua idade, como sempre, quase não se deu por ele.





- O que queres ser quando fores grande ?

- Não quero ser nada, como o meu pai.
- Mas, tu tens que trabalhar.
- O meu pai também trabalha e não é nada.

Este diálogo passou-se entre o D e o avô, não é trágico, é apenas revelador da inocência de uma criança, quanto a mim resta-me a cumplicidade de Álvaro de Campos

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
...

(Tabacaria, Álvaro de Campos / Fernando Pessoa)




1 a 1

É neste momento o resultado desta liga interminável, os israelitas marcaram ontem a nosso favor, depois do desaire de Quinta-feira (11 de Março), empatando assim a refrega, os adeptos não ficaram satisfeitos pela forma como a equipa construiu o resultado, mas ficaram-se pelas assobiadelas habituais, aguarda-se agora ansiosamente a próxima jogada.
Bagdad entretanto tem-se mostrado um terreno favorável ao adversário, os Americanos tradicionalmente bons no jogo aéreo, onde não têm contendores á altura, no jogo rasteiro não têm dado conta do recado, só jogando em velocidade e em força, e ainda assim frequentemente surpreendidos no contra-ataque.




Pinceladas

Uma no Herman, que apesar de ver continuamente vaticinada a sua queda em desgraça, se mantém, sem concorrência á vista, como o exemplo mais completo de entertainer da nossa praça, ainda neste Domingo dei por mim deslumbrado (e invejoso) ao vê-lo tocar piano, não basta ser habilidoso, são precisas horas e horas e horas para fazer um piano balbuciar qualquer som que dê prazer a quem o ouve. As piadas até podem ser escritas por outros, mas o piano não é playback.

Outra no Abrupto, pela tribuna fantástica que abriu para a apresentação de pontos de vista sobre o atentado em Espanha, apesar de alguns mas... que seguramente se lhe pode apontar, como por exemplo, ...mas ele só escolhe os que quer publicar..., e mesmo não concordando com algum afiar de lâminas de alguns, ainda assim é reconfortante saber que há muita gente atenta e interessada ao que se passa fora do seu quintalzinho, gostei particularmente deste (perdoem-me o plágio ou a violação da correspondência ainda que electrónica):

“É inacreditável! O que aconteceu em Espanha deixou-me verdadeiramente assustado. A Europa, que infantilmente pensa que está fora do perigo terrorista, nem depois de um ataque como o de Madrid acorda e percebe que esta atitude reactiva é o convite para a repetição da matança dos inocentes. A minha pergunta é esta: quando o terror psicológico a que estamos cada vez mais sujeitos atingir os píncaros da loucura e do descontrolo, quando a vida se tornar verdadeiramente insustentável e insuportável pela pressão do medo, o que é que vai acontecer ao Mundo?
Terceira Guerra Mundial? Mas contra quem? Aonde?
Os terroristas não vão parar. Os E.U.A não vão parar. Enquanto isso pelo continente sul americano, africano e asiático a pobreza e a fome e a falta de motivos para se viver chicoteiam populações inteiras. Aonde é que tudo isto vai parar?
Cada vez mais penso naquela que é, por essência, a questão derradeira da filosofia:
(...) não há senão um único problema filosófico verdadeiramente sério: o problema do suicídio. Julgar que a vida vale ou não vale a pena ser vivida, é responder à questão fundamental da filosofia. (Albert Camus, Le Mythe de Sisyphe, Paris, Galimard, 1942)”


(Ivo Monteiro)

2004-03-18

O assassinato de Ribeiro Santos



Segundo Henrique Manuel Nunes Miranda

«(...) passo a relatar o que na altura vi (mais ou menos a dois metros da ocorrência).
O agente da PIDE/DGS (possivelmente chefe de brigada ou inspector), estando sob a “molhada” a levar pancada, consegue sacar da arma. Num ápice os estudantes desapareceram do estrado refugiando-se na parte superior do anfiteatro. O autor destas linhas refugia-se na 1ª fila, protegendo o corpo. No estrado ficou somente o Pide e o Ribeiro Santos que o tentava imobilizar pelas costas e controlar (???) a mão armada. O “grandão” vai disparando tentando alvejar quem o agarra. É tudo muito rápido. Numa das voltas e reviravoltas o estudante cai de barriga para o chão. É, de imediato, alvejado nas costas. Tudo se passa em segundos. O Ribeiro Santos não se mexe mais nem nada diz. Estou na 1ª fila a uns dois metros da ocorrência. Estou por detrás da secretária onde, no chão, à sua frente, está (ou estava) o buraco de uma das balas. Vi tudo porque mantive sempre a cabeça de fora.
Logo após o tiro que se revelou fatal entra, de rompante, um estudante (Lamego) no anfiteatro. Depara-se com um homem que lhe aponta uma arma ao peito. O estudante fica quieto, estático – foi o que o safou. A distância que os separa ronda os três metros. O Pide, perante a passividade do alvo, controla-se; redirecciona a arma para a coxa e dispara. Sai a correr e de arma em riste passando ao lado do estudante da coxa baleada que se mantinha de pé no mesmo sítio.
Da sala só saiu um estudante a correr atrás do Pide e sou eu. Já cá fora encontro outro estudante no cimo das escadas que o esbaforido Pide consegue descer “a galope” mas sempre de arma apontada para nós e sob chuva de pedrada por nós os dois (azelhudos) arremessadas. Conseguiu o impossível – descer a correr, olhando para trás e escapando ileso sem um trambolhão sequer.
A impressão que na altura tive é que tinham sido disparados cinco tiros, incluindo o da coxa e que, portanto, ainda sobrava pelo menos uma bala (calculava que a arma levaria 6 balas no carregador mas não tinha a certeza se poderia levar pelo menos mais uma).
Ao regressar ao anfiteatro está o Ribeiro Santos a ser carregado. Investigamos onde estaria o raio da perfuração pois não se via sangue – deparamo-nos com algo parecido com uma baba de picada de insecto.
(...) no funeral do Ribeiro Santos, após os confrontos com a polícia, o povo anónimo da zona, bairro do actual Largo Ribeiro Santos, nos abria a porta de suas casas, escondendo-nos e oferecendo-nos de comer e beber. Sentados no chão da sala e a dona da casa a controlar os movimentos na rua...
Não me interessam polémicas nem aproveitamentos de qualquer tipo. Esta é a versão dos meus olhos. “Desculpem qualquer coisinha...”.
Aos pais do Ribeiro Santos um público pedido de perdão por não se ter evitado a morte de um filho teso. »



Apanhei estas memórias de outros tempos no Causa Nossa de há dias, não quis deixar de as partilhar aqui, talvez pelo facto de quem as relata ter estado tão próximo dos acontecimentos, e quase nos tranportar para dentro deles.
Nas mesmas circunstâncias hoje qualquer polícia sacaria da arma e defender-se-ia da mesma forma, a diferença substancial é que hoje não seria a Polícia política, por outro lado a liberdade de expressão não é reprimida.
Sem qualquer cinismo chamo a atenção para o personagem (José)Lamego que está hoje no Iraque .

É preciso Ter lata

Para chegar ao extremo (segundo ouvi anteontem na Antena 1) de requerer nas Nações Unidas uma resolução a condenar a ETA, ainda por cima com base em provas falsamente apresentadas para sustentar a validade da pretensa resolução, como por exemplo a da origem dos explosivos ser semelhante aos usados pela organização terrorista basca, quando já havia indicações de que o tipo de explosivos encontrados não coincidir de todo com os usualmente usados pela mesma.

Outras realidades vêm agora á tona sobre os futuros ex-governantes de Espanha, e são elas o controle feito sobre grande parte dos meios de comunicação pelo governo de Aznar que, levava a que, dizia ontem (no canal 2) um jornalista da TVE, estando ele em Barcelona, segui-se no Sábado à tarde os acontecimentos de Espanha pela RTP, dando a entender que, a informação veiculada pelas cadeias de televisão espanholas estaria a ser filtrada. Outra realidade que aparece agora mais clara, também referida pelo mesmo jornalista (Ramón Font), recordou-me os tempos do cavaquismo, tem a ver como dizia ele, com o estilo, no caso roçando o autoritarismo, da maioria do PP.

Isto vem lembrar que, no estado actual de concentração empresarial dos média, assume especial relevo, a confrontação da mesma informação em diversas fontes e de diferentes tendências políticas, como forma de ultrapassar eventuais tentativas de manipulação da informação.
Neste contexto os Weblogs (vulgo blogues) representam também um papel importante, são em muitos casos elaborados por pessoas com um contacto próximo da informação ex: jornalistas e políticos, são tendencialmente independentes de interesses económicos, por outro lado, respondem à realidade actual de predomínio do comentário, sobre a notícia, procuram-se normalmente em pessoas que se têm como melhor (in)formadas, a interpretação dos acontecimentos. Acresce ainda a velocidade de actualização, aspecto a não menosprezar em tempos como estes sequiosos da informação no momento, e não na manhã seguinte.


Do Compadre

Envia-me ele esta notícia do JN de ontem.

Falso psiquiatra há 15 anos enganou clínicas e tribunais. Com consultório no Porto, detido tinha como habilitação literária a antiga quarta classe. Acompanhava mais de 100 pacientes, dava
aulas e emitia pareceres para instituições.


Dizia-me uma ontem colega prosaicamente, a propósito da notícia, -Para ser bom psiquiatra só tem que se saber ouvir.
Se calhar é mesmo assim.
Penso que seria também interessante avaliar os conhecimentos do homem, essencialmente para testar se o sistema corporativo que defende os psiquiatras encartados, não deveria deixar uma porta aberta para eventuais autodidatas. (O comentário é meu).

2004-03-16

-Então ?

Perguntava-me ontem à chegada ao emprego um colega com um sorriso cúmplice nos lábios. Apesar de num primeiro instante me surpreender percebi de imediato ao que vinha, e respondi-lhe também, com um sorriso que me de tão genuíno me durou na face até entran no gabinete. Ele dirigiu-se para o elevador e para que não restassem dúvidas gritei-lhe – Estou contente .
E assim quase por sinais de fumo ficou tudo dito acerca dos últimos acontecimentos em Espanha, eu estava contente, não pelas quase duas centenas de vítimas, nem tanto pela vitória de todo inesperada do PSOE, mas pelo facto de os espanhóis não se terem deixado manipular vergonhosamente pelos governantes espanhóis, que tentaram a todo custo orientar a responsabilidade do atentado de Quinta-Feira num sentido que lhes era à partida eleitoralmente mais favorável.
Não terá sido a participação da Espanha na invasão do Iraque a ditar o resultado, perante a responsabilidade do extremismo árabe no atentado a vitória do PP certamente não seria tão expressiva, mas seria ainda assim o partido mais votado. O que o ditou definitivamente foi os espanhóis não aceitarem ser tratados autenticamente como NABOS, coisa comum nalguns políticos, que jogam a seu bel-prazer com o aparente alheamento das pessoas da actualidade política.
A Zapatero caiu-lhe do céu o triunfo, resta agora ver como vai gerir algumas das promessas que terá feito na quase certeza que não teria que as concretizar.
Espero que sejam apenas o inicio dum vendaval que varra da cena política internacional muitos dos que a inquinam neste momento.


P.S. A propósito dos nabos, vem também aquele anúncio do nosso PM dos 2,8 % do défice, e do grande feito que isso terá sido, “marketing político” classificou-o sem meias palavras o Nicolau Santos na Antena 1, ou por outras palavras, digo eu, vão vender essa a outro.

2004-03-13

Massa

A apostilha (palavra portuguesa para post segundo o Dicionario da Porto Editora) de ontem perdeu prioridade quando confrontada com um macheroni bolognese gratinado com vista sobre o Douro num plano elevado, o sol de inverno forte que invadia as janelas do restaurante obrigava ao almoço com óculos de sol, coisa que não aprecio, gosto de ver as coisas como elas são realmente sem filtros, com filtro só o Lucky Strike que o inesperado do convite me impediu de dispôr na hora, de qualquer forma o pouco tempo disponível dispensava-o. A carne picada do bolognese não me convenceu, mas o queijo derretido e ligeiramente gratinado que abafava o macheroni estava divino, contrariamente ao mozarella que normalmente trago do supermercado que, gosto nem vê-lo, apenas deixa o efeito de queijo derretido, o prato foi acompanhado por SB fresquinha como convêm.
A Cria pela sua mãe foi na Lasagna, que estaria boa, pelo menos o prato ficou limpinho, aliás tal como o meu, mas como sempre veio só a dose da Cria esqueceram-se que a mãe também come, como quase perdi a esperança de encontrar uma de dimensões aceitáveis para um estômago normal, tive de aprender a fazer o Bechamel, e de quando em quando, lá fazemos um tabuleiro de forno para saciarmos os nossos normais apetites.
A sobremesa foi a cereja em cima do bolo, comia com os olhos, à primeira vista, quando a vi passar no carrinho junto com as amigas para ser seleccionada pelos colegas da mesa do lado, eles escolheram o que me pareceu tarte de framboesa, eu não, foi só apontá-la ao empregado quando chegou a hora, aquela ali, no canto do tabuleiro , nem lhe cheguei a saber o nome, era uma fatia de uma espécie de tarte sobre o comprido, tinha uma base fina de massa folhada rematada nas extremidades com o que me pareceram ser profiteroles recheados com um creme que seria de ovo, entre eles repousava outro creme que seria à base de chantily com uns pedaços minúsculos de fruta que lhe enriqueciam o paladar quase sempre enjoativo, quando em muita quantidade, era rematada em cima por placas finíssimas de chocolate ondulado, e polvilhada com açúcar em pó, servida fria e não exageradamente doce, era daquelas sobremesas que se comem devagarinho tentando evitar que chegue o último pedaço.
O epílogo da refeição foi o costumeiro café, que não o seria como já foi dito, se fosse Sábado, se estivesse o mesmo sol, se as crias ficassem na avó, se as SBs tivessem sido duas em vez de uma, se os cafés tivessem sido dois seguidos pelos inevitáveis Golpes de Sorte, enfim se o tempo fosse nosso escravo e não o contrário.

O restaurante chama-se Lancelot fica no primeiro andar das galerias dos prédios novos à ponte da Arrábida vale pelo todo, vistas incluídas, quanto ao preço, acho sempre muito o que pedem por um prato que, sendo neste caso macheroni bolognese, não deixa de ser massa , o serviço é “La Finesse” mas não em exagero.

2004-03-11

Faltam 122 dias

Hoje foi dia das crias irem todas ao médico, todas, o D foi ver como está a sua diabetes, a G foi ver um possível problema com os pés rasos e os joelhos ligeiramente metidos para dentro, a Cria foi ver como está a sua evolução desta vez ao Sto.António, tal como todos.
Invadimos pois o Sto.António cerca das 8.15h. . A diabetes do D está nos carris, por agora alguma preocupação que nos ocorre tem a ver com a sua entrada na escola dentro de meses, mas como tem sido até aqui, melhor ou pior a coisa resolve-se de certeza.
O problema da G em princípio resolve-se com calçado ortopédico, e com andar descalça sempre que possível, perdemos nós a paciência diariamente para que ela não passe o tempo a descalçar-se e nós a calçá-la, e afinal ela tinha razão, tem mais é que andar descalça.
A Cria estava como na Sexta-feira, bem, os manos não quiseram ver, para o D como já sabe que é um mano (um menino), já está tudo visto, enfim foram para a sala de espera torrar a paciência à tia que foi arregimentada para esta ida em massa ao médico.
Apenas um pormenor curioso nesta enésima ecografia, o da “gordurinha” como lhe chamou eufemisticamente a médica, é que pelos vistos a “gordurinha” tira definição à ecografia, ficamos a saber que numa próxima há que fazer uma dietinha antes da procriação.

2004-03-09

J.Kerry

Dos resultados das primárias democratas da semana passada saiu a quase certeza da vitória de Kerry. Será então certamente este, o homem a defrontar Bush Jr. em Novembro.
Para já, relativamente ás declarações que fez parecem ser de esperar mudanças na política internacional que classificou como a mais arrogante das últimas décadas. Em termos económicos espera-o um fardo pesadíssimo (se ganhar) no que diz respeito ao défice orçamental e externo. Quanto ao primeiro, é paradoxal, perante um dicurso do presidente americano apontado sempre na direcção da redução de impostos. Substituem-se as políticas de inclusão social pelo sustento da voracidade armamentista, sendo que, esta é bem mais dispendiosa.
Hoje há mais primárias, mas serão certamente para cumprir calendário.

"I fancy England or Italy"

O que eles pensam de nós, dito por eles.
Afinal não foram reduzidos á vulgaridade, o FCP terá tido a sorte de marcar em duas das três oportunidades que criou, e o sistema também esteve á altura, segundo A.Ferguson o árbitro terá sido amigo dos portugueses. Afinal, lá como cá os arbitros têm as costas largas.
O título é extraído de declarações de Mourinho, visivelmente a preparar o terreno para se pôr a andar no final da época.
Vamos a ver se estámos realmente perante um gigante do futebol europeu, ou se se trata apenas de um tigre de papel fabricado em grande parte pelo marketing e merchandizing ao serviço do futebol.

2004-03-07



Carta a Meus Filhos sobre os Fuzilamentos de Goya

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso. É possível, porque tudo é possível, que ele seja aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo, onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém de nada haver que não seja simples e natural. Um mundo em que tudo seja permitido, conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer, o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós. E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto o que vos interesse para viver. Tudo é possível, ainda quando lutemos, como devemos lutar, por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, ou mais que qualquer delas uma fiel dedicação à honra de estar vivo. Um dia sabereis que mais que a humanidade não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu semelhante no que ele tinha de único, de insólito, de livre, de diferente, e foram sacrificados, torturados, espancados, e entregues hipocritamente à secular justiça, para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.» Por serem fiéis a um deus, a um pensamento, a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas à fome irrespondível que lhes roía as entranhas, foram estripados, esfolados, queimados, gaseados, e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido, ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória. Às vezes, por serem de uma raça, outras por serem de uma classe, expiaram todos os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência de haver cometido. Mas também aconteceu e acontece que não foram mortos. Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer, aniquilando mansamente, delicadamente, por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus. Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror, foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha há mais de um século e que por violenta e injusta ofendeu o coração de um pintor chamado Goya, que tinha um coração muito grande, cheio de fúria e de amor. Mas isto nada é, meus filhos. Apenas um episódio, um episódio breve, nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis) de ferro e de suor e sangue e algum sémen a caminho do mundo que vos sonho. Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la. É isto o que mais importa - essa alegria. Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto não é senão essa alegria que vem de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém está menos vivo ou sofre ou morre para que um só de vós resista um pouco mais à morte que é de todos e virá. Que tudo isto sabereis serenamente, sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição, e sobretudo sem desapego ou indiferença, ardentemente espero. Tanto sangue, tanta dor, tanta angústia, um dia - mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga - não há-de ser em vão. Confesso que muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos de opressão e crueldade, hesito por momentos e uma amargura me submerge inconsolável. Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam, quem ressuscita esses milhões, quem restitui não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado? Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes aquele instante que não viveram, aquele objecto que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam «amanhã». E, por isso, o mesmo mundo que criemos nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa que não é nossa, que nos é cedida para guardarmos respeitosamente em memória do sangue que nos corre nas veias, da nossa carne que foi outra, do amor que outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena (1910-1978)



"Tropecei" neste texto de J.Sena quando procurava um poema para ilustrar a novidade de Sexta-Feira, não encontrei o que pretendia, mas detive-me nele, reli-o com atenção, e resolvi partilhá-lo aqui.

Tem sido recorrente esta sensação de estranheza perante textos já com algum tempo, ilustrando ideias que pareciam passos dados numa determinada direcção, que me parecia natural, e que algures no tempo se desviaram e seguiram outro caminho ou se perderam, tudo o que havia a dizer nesse sentido parece já ter sido dito.

Do Compadre

Parabéns,
Mais uma pila lá em casa para desempatar. 3-2 para os homens. Agora é só
começar a pensar no nome, que, para fugir ao tradicional processo de
selecção (pelas páginas amarelas), sugiro que seja o mesmo deste teu
compadre. Até porque como diria a minha Ex, é um nome "La Finesse".
Vamos torcer para corra tudo bem e que o rapazola saia aos manos, que são
fantásticos.
Beijos para a mãe e abraços para o pai, que apesar de já acharem natural (é
a 3.ª cria), continuam babados.

O Compadre


2004-03-05

Faltam 128 dias



Fomos espreitar a nossa cria, está com 450 gr. de peso e tudo o resto está dentro dos parâmetros normais, está um homem. Um homem não diria, mas uma amostra de homem, correspondeu aos desejos do D que queria um mano, depois só mais uma mana diz ele, no fim quis ouvir novamente o coração do mano e o Procópio fez-lhe a vontade.
Temos portanto este problema para resolver, é que nós gostámos de fazer a vontade ás crianças. A G achou mais graça ao gel da ecografia na barriga da mãe.

2004-03-04

Do Compadre

As desempregadas da Parmalat



Compadre isto não se faz, isto é suposto ser um blogue decente.

Relativamente á novela da Parmalat, impressiona como se conseguiu enganar tanta gente durante tanto tempo, trata-se de um gigante quer em termos italianos quer mundiais, empregando muitos milhares de trabalhadores em muitos paises do mundo. A situação económica e financeira foi sendo iludida durante os ultimos anos com a conivência das multinacionais de auditoria que avalizaram as contas, e que aparentemente saem airosamente da situação. Quem fica de mãos a abanar serão os accionistas, os empregados e os credores. Pouco tempo depois da situação ser tornada publica ainda havia empresas financeiras a aconselharem a compra das acções.

Dizia-me há dias em conversa um colega que determinado banco bem cotado na nossa praça não podia ir há falência, depois disto e do que aconteceu nos EU penso que temos mais é que estar atentos, no fundo as firmas de consultoria serão antes de mais fornecedores interessados em facturar, ainda que com prejuizo da suposta independência na análise das contas.

Faltam 129 dias


A cria mede, aproximadamente 19 cm, da cabeça às ancas. Tem sobrancelhas e pálpebras. Dentro do útero, consegue ouvir muito do que se passa no mundo exterior, pelo que esta é uma excelente altura para lhe começar a falar, ler e até cantar e ouvir música relaxante.

Isto e muito mais é o que vamos confirmar já amanhã .

2004-03-02

Do Compadre

Correio já com alguns dias, envia ele da Edição Nº1578
http://www.avante.pt - Jornal «Avante!» (não morde, e já lá vai o tempo das criancinhas comidas ao pequeno almoço e das injecções atrás da orelha) esta pérola.

OS PUROS

No mesmo dia em que começava em Haia o julgamento simbólico, porque não vinculativo, da construção do «muro do apartheid» com que Israel está a isolar a Cisjordânia, em Portugal a comunidade judaica celebrava o que considera ser um acto de transcendente importância: a apresentação pública de um vinho «para judeus».
O acontecimento teve direito a reportagem televisiva e a declarações das entidades envolvidas no evento. Aparentemente, todos estão de parabéns.
A adega cooperativa que produziu o vinho respira de satisfação por
colocar no mercado um produto apetecido por uma camada importante de
consumidores, dentro e fora do país; o representante diplomático de
Israel regozija-se pelo que considera ser um acto de «reconciliação» com os judeus; e o dirigente religioso dá graças por o seu rebanho passar a dispor de um produto confeccionado como manda a sua religião.
Nada disto teria muita importância se não fosse um «pequeno» pormenor. O vinho agora posto à venda - e já com milhares de garrafas destinadas aos Estados Unidos - pode ser bebido por judeus porque é «puro». Não se trata, como legitimamente se poderia pensar, de nenhuma nova técnica da confecção do produto. Como o rabino fez o favor de explicar aos ignorantes telespectadores, a pureza que habilita os judeus a degustar o vinho português advém única e exclusivamente de, na sua confecção, desde o tratamento da uva até ao engarrafamento, intervirem apenas judeus.
Confesso que a perplexidade me impediu de perceber se foram judeus que
cavaram a terra, cuidaram das videiras e apanharam os cachos que
entraram na adega para produzir o precioso líquido, ou se a «pureza» só começou depois do trabalho sujo, quer dizer, do trabalho duro.
Por momentos, eu que nunca vindimei, fiquei a olhar para as minhas mãos perguntando-me o que tinham de impuras a ponto de impedir que outros consumissem o que porventura tivessem tocado. E senti-me ofendida, profundamente ofendida, por alguém no meu próprio país, que tem a mesma nacionalidade do que eu ou que aqui encontrou acolhimento, que beneficia dos mesmos direitos e deveres, se arrogue o direito de dizer, porque professa uma determinada religião, que só é «puro» e digno dos «eleitos» o que não for tocado pelas mãos sujas dos indígenas como eu.
Mais do que ofensivo, isto é uma manifestação de racismo, seja qual for o embrulho com que se apresente. Com um rótulo destes, qualquer vinho é um apelo à intolerância. Que desperdício!”



Respirar fundo e apelar fortemente á racionalidade, é o que há a fazer perante o vinho dos puros.

O Compadre, incansável como só ele, enviou-me ainda outro mail sobre a segurança de um Presidente de Câmara candidato a candidato á presidência da republica, mas sinceramente já não tenho pachorra, e olhando friamente a situação talvez seja positiva a sua candidatura para a pulverização dos votos á direita.


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Leio de empreitada o Abrupto e o Causa-Nossa dos últimos dias, do primeiro destaco o texto que se segue :

AS LEIS QUE NÃO SÃO PARA TODOS

Porque é que um arruaceiro e um hooligan que faz as coisas que Ferreira Torres, presidente da CM do Marco e membro do Senado do PP (o órgão apresentado com pompa no último Congresso, para as autoridades “morais” do partido), fez diante de toda a gente, incluindo agressões físicas a pessoas, tentativa de destruição de bens, etc., em público, resistindo à autoridade, não foi imediatamente preso pelos guardas que o agarraram? Aqui está uma pergunta a fazer ao MAI. É um bom teste sobre a bondade da atitude dura do Governo face à violência no desporto.”



Porque não se percebe como é que depois de tantos indícios de tanta ilegalidade, ainda não tenha a justiça encontrado ponta para lhe pegar. Cromos como este deixam nas ruas da amargura a credibilidade da Justiça e da Democracia em geral, abrindo portas (curioso ... Portas) ao populismo extremista.

Do Causa-Nossa não destaco nada em particular, empanturrei-me com ele TODO. (burp !)



Releio Os Maias

A mesma edição que fui (fomos) “forçado” a ler junto com as “Viagens na minha terra” nos tempos da escola, agora já gasto pelo tempo, sublinhado e anotado entretanto pela mana, também, nas suas andanças do secundário. Desta vez saboreio e dou-lhe realmente muito mais valor, sobretudo depois de sentir a dificuldade do que é escrever meia dúzia de linhas ainda que sobre um qualquer assunto que aparentemente tão claro na mente, mas que ao verter neste caso para o computador se vacila a cada palavra, e se corrige e volta a corrigir, e mesmo assim nunca parece estar bem.

Na altura, atento apenas ao desenrolar do enredo e perseguindo incansavelmente a última página, pareceu-me uma trivial “história da carochinha”, ainda para mais quando a seiscentas páginas do fim, este já se antevê, compreendo bem hoje, a minha implicação de então com o livro, entretanto já passou muita água debaixo da ponte, e muito do que estava nas entrelinhas e lá ficou na altura, aparece agora mais transparente.

Apenas duas curiosidades relativamente ás cento e algumas páginas que li até agora :

“ o ciúme entre Lisboa e Porto.....Nesta luta das duas grandes cidades do reino, podem outros ver despeitos mesquinhos, eu vejo elementos de progresso. Vejo civilização.”

“Quer-se um economista? Não há economista. Tudo assim!...mesmo nas profissões subalternas. Quer-se um bom estofador? Não há...”


Os Maia, Eça de Queiroz, Ed.Livros do Brasil, Lisboa

Passagens de dois diálogos a que achei piada, por, tal como naqueles tempos (há cerca de 120 anos), ainda hoje serem assunto de conversas de café.

Este “apetite” por economistas, deu em que passado algum tempo tivessem que aturar um por quarenta anos.

2004-03-01

Super Terça-Feira

É amanhã, e por incrível que possa parecer, é importante para nós apesar de tanto mar nos separar dos vizinhos do outro lado do Atlântico, vai certamente determinar em definitivo o candidato democrata que irá enfrentar Bush Jr. nas eleições de Novembro.
Espero receber então uma boa prenda de aniversário.
Até lá, é ir acompanhando qual dos candidatos teve mais relações extra-conjugais, será seguramente um dos indicadores determinantes para a sua popularidade.

Montaigne



"A vida humana aspira à felicidade ... "

Mais aqui.

Em francês aqui .

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